sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A primeira vez sem o meu avô

Cheguei hoje na casa dos meus pais. 
A primeira coisa que fiz ao chegar, como sempre, foi ir até a casa da minha avó lhe dar um abraço. Essa foi a primeira vez que voltei após a morte do meu avô, e preciso confessar que foi estranho. Num primeiro momento foi como se ele estivesse internado ou na hemodiálise... mas depois a sua ausência foi se tornando densa e verdadeira. Olhei suas coisas que ainda estão pela casa e peguei seu anel e um dos seus relógios para guardar de lembrança. A verdade é que eu aceitei sua morte desde o começo... sinto saudade, sim, do bom avô que ele foi, do homem com saúde e gosto pela vida! Mas é de certa forma um alívio entrar em seu quarto e não vê-lo pele e osso sofrendo na cama. Muitas pessoas simplesmente não entendem isso, acham que talvez eu seja uma pessoa fria ou isenta de amor por admitir que me sinto mais leve por saber que meu avô não sofre mais. Mas, é verdade, por que eu mentiria? A maturidade me ensinou a aceitar a vida como ela é, aceitar as despedidas e a morte! Desejar que alguém que amamos continue vivo, mesmo sofrendo, somente para não precisarmos nos despedir, é um ato egoísta. 

Não acredito em Deus e não sei se acredito em vida após a morte (estou mais do lado dos céticos nesse assunto!), mas tenho o coração tranquilo por ter sido uma boa neta enquanto meu avô vivia e padecia. Me arrependo de não ter passado mais tempo com ele quando ele ainda tinha saúde, e me arrependo também de nunca ter confessado para ele que eu também não acredito que os norte americanos chegaram à Lua e que também acho aquele vídeo antigo uma farsa (meu avô sempre disse isso e sempre riam da cara dele). Gostaria de poder voltar no tempo e dizer "Vô, você provavelmente esteve sempre certo!". Me arrependo de não ter me despedido direito dele da última vez que nos vemos e não ter dito que o amava. Mas nós nunca dissemos isso um para o outro, então, seria forçado. Mas eu sei que ele sabia que eu o amava. E eu não me despedi direito dele pois ele estava MUITO mal de saúde e fiquei com medo dele piorar e sofrer muito por saber que eu iria embora em poucas horas. Então só dei um beijo nele, disse para ele descansar e me despedi como se fosse vê-lo novamente em breve. Eu não sabia que aquela seria a última vez, apesar de imaginar que poderia. Mas ele estava tão ruim que nem sei se ele se deu conta do que aconteceu naquele nosso último encontro. Me arrependo de não ter viajado mais vezes para cá com a Paula, pois meu avô sempre adorou ela e viu ela somente em 2002 e depois em Maio desse ano, antes de morrer. 

Amanhã iremos no cemitério ver seu túmulo. Espero ser forte e não me emocionar tanto. Eu não gosto de chorar. Não gosto daquele vazio insuportável que a saudade causa. Não gosto! Geralmente me faço de forte e isso, de certa forma, me faz bem. Quando eu choro, é porque a coisa tá braba mesmo! E quantas vezes chorei de soluçar quando meu avô estava doente... quantas vezes...!

O Alzheimer da minha avó deu uma piorada no seu estado de humor após a morte do meu avô. A última que ela "inventou" é que meu avô foi enterrado vivo (!!!!). Ela ainda não me disse isso, mas minha mãe já me preparou. Ela anda contando isso para todo mundo! Acho que ela sonhou e realmente acredita nisso! Mas hoje ela não tocou no assunto e seu humor melhorou muito com a minha chegada. Minha avó tem um gênio difícil, mas sinto tanta pena dela! Espero de coração que ela esqueça isso do meu avô ter sido enterrado vivo, pois tenho certeza que isso está causando um sofrimento tremendo pra ela! Desde que começou a sofrer desse maldito Alzheimer que sua cabecinha cria estórias absurdas! É de dar pena!

No mais, a vida continua como sempre.
Minha mãe continua amorosa e atenciosa, e meu pai continua reclamão e perguntando se eu já escovei os dentes antes de dormir! 
Será que todos os pais fazem isso com os filhos a vida toda? Ou é só o meu? rs!

2 comentários:

LOVE MAKES A FAMILY disse...

Maíra, imagino coo deve ser tudo que você relatou...Acho triste demais a despedida. Muitas vezes já desejei ir antes de qualquer familiar meu, acredita? Ao contrário de você, acredito muito em Deus e não sei se seguraria a onda de não ter fé em nada. Mas te digo uma coisa, se não acreditasse, acho que me mataria, pois eu acho a vida aqui na terra muito complexa e não suporto a ideia da perda ( talvez eu seja egoísta nesta questão...).
Quanto ao seu pia, acho bonitinho ele te perguntar isso, é uma forma de dizer que te ama.Eu vejo assim, é o jeitinho dele. Um ótimo filme para você assistir e, talvez, aceitar o jeito do seu pai, é o filme Cerejeiras em Flor. Lindo demais!
Ah, chore, pois faz bem colocar as dores pra fora. se a gente não chora, tem uma dor no peito que dói só em tocar. faz super bem para as emoções, sabe. Aprendi isso em massoterapia há muito anos.
Um beijo,
A.

LOVE MAKES A FAMILY disse...

Talvez seus dentes bonitos e branquinhos, sejam por causa dele, rsrs...

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